domingo, 6 de fevereiro de 2011

(Doc.32) Uma entrada no meio do mangue.

A vida aqui em Moreré toma outros rumos. É claro que já conheço praticamente todo mundo da vila e  todo mundo da vila já sabe quem eu sou e aonde estou. A coisa da honestidade aqui é muito forte. O pessoal não leva, não rouba. Quando estava na biblioteca, agora fui transferida de volta para a casa e o quarto que eu fiquei na primeira noite quando cheguei aqui. O mesmo quarto, aonde abri a janela e logo fechei, acho que não contei essa história,. Dias antes de mudar de Boipeba Velha, da casa de Arcadio, estilista que emprestou a casa para o Lurfy, meu amigo, a casa de revista, umas das vinte mais lindas do mundo, pelo telegraph de londres, estivemos no paraíso. Não o do céu, mas um lugar divino, um restaurante na praia, de se ficar a tarde toda, os meninos encontraram um amigo fotógrafo que passava as ferias em Moreré e nos convidou para uma festa lá no mesmo dia a noite. Não fomos claro, muito longe mas  o moço era um pitéu. Fiquei pensando em como o encontraria de novo. Passaram-se alguns dias, fiz um passeio a pé de Boipeba para Moreré, no ultimo dia e andei até aonde a praia aparentemente tinha fim. Um mangue. Uma entrada no meio do mato. O buraco de Alice no país das maravilhas tropicais. Logo em frente, uma biblioteca, é pedir demais, mas era verdade. Era a casa da Mirtes. Mirtes, eu preciso de um lugar tranquilo prá ficar, você é gaúcha, gente fina, vai me ajudar. Quero ficar aqui e escrever nessa biblioteca.
Pois ela armou uma cama com o cortinado azul acqua atrás das estantes, protegida da chuva e sereno, a minha cabana literária que eu chamei de minha casa tantos dias. Mas a primeira noite eu passei nessa casa. A Mirtes tem um terrreno enorme no meio do mangue, que eu confundo tantas vezes e chamo de pântano, marrecage, e nele construiu umas sete casas de nativo, uma mais interessante do que a outra. E aluga essas casas.  São de telhado de folha de palmeira seca, não tem paredes ou tem só nos quartos, e algumas casas são sobre as árvores ou palafitas e outras, como essa que eu estou, são bem gtandes e com areas internas espaçosas e arejadas. Parecem casas de indio. Mas você vai andando por aqui e vê que é realmente assim que eles vivem, os nativos, mas é claro, num esquema bem mais simples. Ainda.
Mirtes, tenho que concentrar, a menina, minha amiga que ficou em Morro, tennta me seduzir com gatinhos e caipirinhas. Ela me liga e diz, olha, já marquei o seu trajeto de volta prá Morro de São Paulo, você fica aqui em casa, a gente arma tudo, tem um monte de gatinhos gringos e caipifrutas. Ela quer me convencer de ir para um lugar para o outro por causa de gatos gringos e caipifrutas. Imagine. Eu querendo ficar sozinha para escrever algo sobre um novo trabalho, aproveitar minhas férias para parar de beber caipifrutas, e fugir de namorico. E que gringo o quê, sai prá lá com gringo, eu hein.
Ouço vozes, abro a janela do meu quartinho, que dá para a  sala ou área comum, fecho de novo rapidamente. É o fotográfo. Quase bato a janela praguejando, demônio, que eu queria ficar quieta, sozinha, agora abro a porta sorridente, quem disse que lembro que tenho um trabalho, que me propus a me concentrar, o homem está lá na minha frente, como você veio parar aqui?, entrei, pergunto, Você está hospedado aqui? Sim, com mais dois amigos. Olho os amigos em volta e só vejo um. Enorme, e duas vezes ainda mais bonito. Quando digo bonito, é bonito mesmo, com todos os temperos que a palavra pode produzir. De dar água na boca. Praguejei em silêncio de novo, agora não tem jeito, pensei, eita faro!
Até quando vocês ficam? Até amanhã de manhã. Graças a Deus, pensei, tão longe tão perto, perigo…Aonde você mora? Eu pergunto para o mais gato, Ipanema, na Vinicius. Bingo. Nos vemos na volta.
E estou escrevendo até agora. Concentrada. Fazendo aquilo que me propus. Por mais que as tentações sejam grandes, estou aqui seguindo. Apesar dos mineiros. Pois é, eles entraram, invadiram a minha vida. E agora eu volto para a casa, com a maior galera de mineiros que eu já conheci na minha vida. Todos são artistas, todos tem algo a dizer, hoje de manhã, todo mundo tocou violão, um pintou. Todo mundo tem musica nova, trabalhos sendo feitos, escrevem poesias, cantam seus próprios trabalhos e o dos outros. Os mineiros são um capítulo a parte. Tem que explicar separado. Estou enamorada de Minas. Na Bahia.

Um comentário:

  1. Boa noite, preciso urgentíssimo do telefone do Arcadio, seria possível conseguir para mim? Qualquer contato me informe no celular 71 92535272 ou no email mitchellssa@gmail.com, grato!!

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muito obrigada pela sua mensagem!