sábado, 12 de fevereiro de 2011

Moreré (Doc.36) O pessoal já tá lá.

O pessoal tá lá. De novo, foram dias e dias seguidos, o luau acontecendo no acampamento de Sete, o marido da Mirtes. São duas e trinta e nove da manhã, três e trinta e nove no Rio e acordei com um pernilongo me comendo. Abri a porta estava o Vô fumando um cigarro. Oi Vô (Vinicius Carvalho, jornalista ambiental). Oi. Cadê a Linda, (namorada dele. Uma portuguesa tupiniquim, cantora de voz grave e toca violão.) Pelo que se sabe ela fica até o último suspiro. Ok, vou lá checar. Fui e já estou de volta. O Vitor Santana, que estava tocando, o baile todo acontece por causa dele. A turma dele, que tem uma ONG em Beagá chamada Contato, e veio para cá num grupo grande. Ele sempre é afim de tocar para a galera. Um homem generoso. Mas o negócio é que ele realmente toca muito bem. Ele gosta do freje mesmo. E os amigos que tocam muuuito também. Eu conversei com vários deles, todos tem história de vida e trabalhos feitos e CD’s e livros publicados, são músicos, jornalistas, bailarinas, produtores culturais. Nossa, Moreré ferveu cultura. Os meninos numa boemia só. Fizemos amizade e já começamos a fazer coisas. O Beto (Humberto Junqueira) toca muita coisa de violão mas veio prá cá com o bandolin, “aprendendo”. Aí chegavam os amigos dos amigos, flautistas, outro bandolinista, sanfonero que não era sanfoneiro (rs), era o Macalé do Barbatuques que veio para a Bahia na oitava edição da “Caminhada dos Sessenta”, uma marcha de quarto dias no Sul da Bahia até Moreré. Esqueci o nome da cidade de onde começa. É muita história prá contra desse lugar incrível, mágico, forte, arrebatador, de marés incrívelmente oscilantes, isso aqui, com esse povo agregado, é o paraíso. Que não está perdido. Fora os nativos do lugar que são seres muito diferentes também. Doces e honestos. Reparo muito no modo de andar sempre sereno. Olha, prá quem veio aqui para passar uma semana escrevendo, fugida de todo mundo, eu encontrei a maior galera artistíca que já vi junta na minha vida. Já vou fazer o meu show da Virada Cultural com eles. Vou mostrar pro Hique a música que o Vitinho fez junto com o Celso Viáfora, prá colocar no Gueixa Tropical. O Beto já quer fazer um trabalho comigo, da gente estudar bastante a Mercedes Sosa. Eu e ele. Violão e bandolin. O Sabiá diz que produz. Ele produzirá o show da Virada também. Irei a Minas ensaiar. Agora Minas faz todo o sentido pra mim. Foi uma unânimidade, eu prá eles e eles prá mim. Vim andando de Boipeba até o fim da praia de Moreré no dia três de Janeiro, tinha uma entrada para dentro do mangue, quase uma toca. Entrei e dei de cara com uma biblioteca e lá fiquei, já abri um livro sobre Plutão que mudou o futuro da minha vida, tenho certeza, e minha forma de ver e aceitar e levar as coisas. Talvez pela coragem e atitude de vir prá cá sem nada esperar, concentrada no meu trabalho, ganhei uma galera inteira feita de artistas e dos bons. Sinto uma gratidão profunda.
É que parei um pouco de procurar fora. Estou me sentindo plena, é essa a minha sensação nesse momento, não tenho o menor interesse de olhar para fora. Estou num processo de placenta mesmo, engraçado e maravilhoso estar dentro do mangue aqui.
 Aqui é um manguezal imenso e ontem nós fizemos um passeio de um dia inteiro, éramos onze, para a Cova da Onça, um vilarejo, tinha festa de São Benedito. Parando na ponta de Castelhanos para o banho memorável, depois da travessia do mangue com a água já acima do joelho e a travessia do canal, foi indescritível. Pena que no final de tudo, na chegada no Bira, minha camera sumiu. Tinham fotos espetaculares.
Estamos no aguardo do “Chez Manjuba” que virá no verão do ano que vem. Com o chef Marcelinho, que é artista gráfico também, que fez um sashimi de robalo e o que não se fez sashimi, ele assou na folha de bananeira, no forno a lenha. Dos deuses.
Na vida nunca se pode ter tudo. Mas vou além..na vida, nunca se deve querer tudo. Talvez isso seja a chave da felicidade.

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