Rogério foi embora. Minha vida mudou. Sem Rogério, que trabalhou anos comigo, cuidando de mim, Rogério é/foi a única pessoa que cuidou de mim nessa vida. Não sei o que vou fazer, me sinto o mais infeliz dos seres, abandonado, feito esse cisne, frágil, indefeso, fraco, triste. Só.Tenho reunião amanhã as nove em ponto no centro da cidade, tenho que instalar meu computador para terminar o projeto gráfico do CD do Marquinho, to comendo uma torrada com pesto, que fiz, modéstia parte tá maravilhoso, o meu talismã, que me faz sorrir, foi embora prá longe de mim, foi prá Inglaterra, vai terminar lá no Irã, o maluco, volta sei lá quando. Olhando com o rosto apoiado sobre as mãos, a mata escura na minha frente, ouvindo os sons, mole que estou de andar o dia todo atrás de uma oficina que concertasse meu para choque, coisas que Rogério sempre fez, lá fui eu fazer, não.. Está tudo bem, meus amigos estão bem. Eles ligam, eles ligam. São 11:11 PM. Eu me sinto anestesiada. Não digo nem que sim, nem que não. Não sei descrever. É como se tivesse um vácuo em volta de mim. O que vai ser. Acho que posso começar a tentar reagir num futuro próximo, fazendo uma outra rapa de coisas que tem coisa prá chuchu aqui em casa. Penso nas camisetas que comprei em Punta Del Leste, camisetas de alcinha e rendinha nas pontas, para malhar, já estão velhinhas, essas eu vou dar. Os biquinis...os biquinis..tem os biquinis de tomar sol, que são todos de lacinho. Branco ou cru. Tem os biquinis que coloco no verão, antes de malhar de manhã, na esperança de conseguir dar um mergulho antes de voltar para casa. Ou na sauna que eu nunca mais fiz na Estação. A gente é muito louco, falo no coletivo porque hoje eu me sinto tão só que seria essa minha única salvação. Não por falta de convites, de afagos.. Digo dessa coisa que a gente sente, que é uma falta de algo que nunca tive. É como se eu desse um grito que não saísse. É a última carta do tarot. Cai a ficha, minha casa, minha casa, olho em volta, o que acontece com os teckados molhados, as pontas das unhas fazem um som bonito, eu gosto. Estou frágil, estou só, totalmente só. Estáticamente só. Uma lágrima cai sobre aminha coxa esquerda, a direita ta apoiada no joelho, pé na cadeira. Balanço a cabeça, desculpa não aceitar seu convite, seu afago, eu me apaixonei por outra pessoa, que vai prá tão longe, está indo agora, que tem que ir, como não ir. Não sei o que há comigo. Bato meus dedos na mesa, no teclado, minha casa já não é a mesma, eu não sou a mesma. Olho eu elefante de bunda prá mim, que minha avó me deu em Saint Barthelemy, ela já não é a mesma, sinto falta de família, não imagina tudo isso, como surfar só nessa imensidão? Do que, de como essas conexões, como é que existe, descolada, esse mundo é duro. A minha natureza é de reverse e penso que apesar de tudo, eu como uma torrada com o pesto que fiz na minha casa. Se eu estivesse em Moreré eu jamais teria comido uma torrada com pesto. E assim lembrei de um carangueijo gigante subindo a parede, nunca imaginei que carangueijo subisse parede..era de folha seca de coqueiro, amarradas, mas do lado da minha cama, e se caísse em mim? Um duelo com a patachoca, porque era o dia da caminhada da patachoca, a fêmea do guaiamum, que sai do mangue e vai para a praia. A força dessa fêmea, ela ia atingir e atingiu o seu objetivo. E passou por mim, eu achei estranho, quase assutador, mas entendi a natureza, que passassem naquela manhã, tantos carangueijos daquele tamanho, um fenômeno de se ver. É a força da natureza. E eu fui tomar um suco da luz de manhã, junto com ele e minha segunda mãe. Errei o caminho que faço todo dia. Acho que estou gostando de uma pessoa que foi para o outro lado do mundo e depois vai inúmeras vezes para vários lugares do mundo. e não tenho a menor probabilidade de saber o que vai ser. Então só de revolta, só de atitude, também não quero saber quando volta, não quero saber se depois disso volta para América do Sul e vai para o sul da América do Sul. Não é síndrome do impossível, é a cabeça, que eu gosto. Agora ele me pergunta se eu tô feliz. Deve ser porque eu griteva outro dia no telefone, eu quero ser feliz, agora não páro de rir, virou um mote, as vezes eu páro na rua, com ele, dou uma volta no cabelo, digo eu quéeeeero ser feliz, a gente ri. Ele ainda é desses que acham que temque girar o mundo prá ser feliz. Tem um espirito inquieto, me sinto um poço de geléia doce, caseira, quando penso em como ele é. Será que queremos isso? Gostaria demais de ouvir o piano tocar agora. Por mais que eu tenha pulado nos teclados, o Kiko Continentino não tá aqui prá tocar, o Daniel Jobim, enfim...a Delia Fischer, enfim...não dá prá tocar piano, eu não tô louca. Deixa comigo o design, deixa comigo...eu quero é ser feliz. Lembro da patachoca, tenho vontade de chorar mais uma vez. 12:12 AM. Tenho que dormir. O homem voando, voando 2, os afagos e carinhos, o carnaval. A minha vida. O carnaval. Seja o que Deus quiser. Mas antes, passando pelo meu crivo. Apenas sono, pega, e cama. Claro que amanhã é outro dia. Acho que esse mundo é muito louco prá mim, muito louco. Queria mais calmo, mais comum.
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