quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
libélula cor de rosa (o amado)
e minha libélula cor de rosa? por onde anda? ele pensa que esqueci, tenho certeza, olha como se engana. é linda, presa numa fivelinha de cristais.. ficou pousada no criado mudo, que quando pequena, eu chamava de "criar do mundo", porque não poderia ser esse nome, ou senão uma palavra francesa "crriádumud" que eu nunca tinha ouvido falar, ohhhh olha só eu caindo em mim, mas esse é o blog da gueixa! e ela está lembrando da última vez que esteve com seu amor, volta,..ela está lembrando dos travesseiros novos, e quando a gente lembra quem diz que a gente não sente de novo? os lençóis brancos, a cama larga um pouco retangular?, analisa, já deu um salto e quicou na maciez, solta o cabelo, ele pediu, o insetozinho foi deixado de lado rapidamente e os cabelos desenrolaram até a cintura. ele é um homem importante, é de outro universo, diferente do dela, seu mundo gira nos termos exatos, nos números, cálculos e critérios. aquilo para ela, os quadros e diplomas e prêmios na parede, tantos livros e nomes, é adorno que índio nenhum tem como mesurar. a gueixa vá lá, mas a descoberta final é que antes dela ser gueixa ela é uma índia, pura, idealizada, da floresta amazônica, e quantas vezes a gente não se engana, por aparências ou por julgamentos imaturos, e pensa que é uma outra coisa? e se confunde internamente, isso faz parte da experiência, da jornada, seus olhos puxados, uma índia que sonha em ser gueixa só pode dar numa gueixa tropical. e essa fez dele um passarinho feliz, mas só ela prá lhe fazer as vontades, servi-lo da maneira que ele gosta, fazê-lo sorrir daquele jeito achando graça nas coisas, que o homem era cheio de vontades, ela sabia de tudo o que ele gostava. via-se paixão nos seus olhos, vida e inspiração. e olha o que a gente faz por amor. o que talvez tenha acontecido foi que ele teve medo de se envolver da maneira como se envolveu e depois, sendo ela tão jovem e artista de..
artista. o que mais amedronta um homem é ser trocado por outro. no fundo, ele não deve ter acreditado em seu amor, dela por ele, e tido confiança o suficiente para a relação ter durado. e se ela me trocar? ela canta, vê-la cantando (...). eu tenho medo que um bruto qualquer, mais forte do que eu a leve embora, me deixando aqui, sozinho, e meus amigos rindo de mim. e a história se repete, o drama da vida se repete com nomes diferentes e nacionalidades, mas o amor e o desespero da perda é o mesmo em qualquer lugar, a dor de ver o ser amado feliz nos braços de outra pessoa é igual prá qualquer um. e ao mesmo tempo, é só o sentimento que nos une. e era afinidade emocional e física, diferença temporal e cultural ao mesmo tempo, não é a toa que existem contos de fada, era uma gueixa e um homem poderoso, uma índia e um homem frágil. tudo isso em dois. e nos dois. e ao mesmo tempo.
ele ficou inseguro com o fato dela querer seguir sua carreira artística, como você vai sair a noite para se apresentar, na hora que chego, que eu quero você? como você vai viajar e me deixar aqui ou não vai me acompanhar quando eu tiver que ir? houveram conflitos. maturidade e imaturidade. dos dois. grandes quebras, perdas ou mudanças, são oportunidades preciosas de reavaliarmos a vida.
a índia é quase criança, ou sempre será, os índios são puros, não têm medo. então aquele mundo novo e colorido não vira um desafio para ela, vira um parque de diversões. porquê os índios tem uma mansidão interna, e talvez na amazônia seja ainda mais profunda, ah minha cabeça de branco, mas foi essa moça que fez aquele homem amar de novo. e enlouquecer também. seus olhos brilhavam nas fotos dos jornais..perfeitamente compreensível. o que faz uma índia-libélula com o coração de um homem "estruturado", cheio de regras e metas a cumprir?
essa índia bem da verdade não é de grandes profundidades filosóficas, ela é mais natural, no sentido de não ter adornos ou máscaras no seu ser, desprovida de pensamentos com rimas, frases pensadas, sinuosidades românticas ou paranóicas. ela é simplesmente natural. tranquila, fala pouco e sorri com os olhos e a boca. seria uma libélula se fosse um inseto, mas aí ela se lembra já sabe do quê.. e a saudade come de novo. libélulas são comida da saudade, pensa, será que ele teve coragem de jogá-la fora? e com ela o meu amor? ou será que ela foi descoberta por estranhos, sem querer, esquecida numa das gavetas do criado-mudo, na pressa de pegar outra coisa, e atirada com raiva pela janela, num vôo final? ou, ainda pior, que antes disso brincou nos cabelos de outra? e na mesma cama! não! que dor pensar isso, pobre gueixa, que índio não escreve ou lê, nem usa fivela de libélula e demora muito mais prá entender as coisas. mas sofre também.
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